quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Proposta do Governador é uma piada!

Proposta indecente 1: R$712,20 para todos os que tiverem vencimento básico abaixo desse valor, desrespeitando as mudanças de níveis, ignorando nosso plano de carreira.  Conclusão: estudar, buscar aperfeiçoamento, para quê? 
Proposta indecente 2: Pagar só para os professores. Demais carreiras estariam excluídas.
Proposta indecente 3: Implementar essa "maravilha" a partir de janeiro de 2012.
O comparsa 1: Ministro Haddad. Oposição? Nada!!! São farinha do mesmo saco. Estragada, por sinal. Considerar correta a atitude do governador no que tange à contratação de substitutos é de uma infelicidade enorme. Além de não cobrar de Municípios e Estados a correta aplicação da Lei do Piso, fica dando "pitaco" onde não é chamado. 
O comparsa 2: Ministério Público, na figura do procurador-geral de Justiça do Estado, Alceu Torres Marques. Aceita e é conivente com a ilegalidade do Governo e ainda vem dizer que pode decretar a ilegalidade da nossa greve. Uma lástima.
O comparsa 3: A mídia subserviente e tendenciosa, que não divulga a verdadeira face de um Governo que insiste em moldar a Lei a seu favor, desrespeitando os princípios da ética, da lisura e da constitucionalidade.
Por tudo isso e muito mais...
A greve continua!  Anastasia, a culpa é sua!!!

Estamos  aguardando uma PROPOSTA. Essa aí, com certeza, é piada. De mau gosto, por sinal.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os "desgovernos" e os embargos de declaração

Acabo de ler no site do Supremo Tribunal Federal: os Estados de Mato Grosso do Sul, Ceará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul entraram com os tais "embargos de declaração". Li partes das petições eletrônicas e pude perceber que os senhores desgovernadores desses Estados querem mais prazo para implementação do PISO, com pena, segundo eles, de terem as finanças dos seus respectivos Estados comprometidas. A petição do Rio Grande do Sul, por incrível que pareça (Estado governado por Tarso Genro, do PT), é a mais detalhada e, ao meu ver, a mais absurda. Diz que o impacto financeiro e administrativo, na aplicação do PISO como vencimento básico, é de "proporções verdadeiramente hecatômbicas"!!! (trágico, não?) Claramente, quer um prazo extra de um ano e meio para a aplicação do PISO de forma integral. Em resumo, querem mais tempo para pagar o que já deveriam estar pagando, e nada de retroativo. Somente contar a partir  do trânsito em julgado do acórdão.O que não se pode mais contestar é que PISO é vencimento básico. Favas contadas. 
Este é o nosso País! O ex-presidente Lula vem criticar (e com razão) a postura do PSDB mineiro, mas olhem aí um dos seus aliados políticos usando as mesmas armas... 
Quanto aos embargos declaratórios, se considerarmos a postura do relator Joaquim Barbosa, que durante o julgamento da ADI 4167 disse não se comover nem um pouco com as questões orçamentárias, creio que eles serão indeferidos. 
No mais, é aguardar e fortalecer a nossa luta, até a vitória!!!

Jornal O Tempo online (últimas notícias)

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=180885,OTE&IdCanal=

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pronunciamento do Governador Anastasia

http://www.agenciaminas.mg.gov.br/audios/governador/8823-pronunciamento-do-governador-antonio-anastasia-sobre-a-greve-na-educacao

Nada de novo, apenas uma tentativa de "dourar" a amarga pílula do subsídio...

Faço agora uma breve análise do pronunciamento do nosso mui nobre governador (com minúscula mesmo!) . Sinceramente, fiquei sem saber se estamos vivendo num mesmo mundo (aqui não é Minas Gerais não, gente?). Sua tentativa foi, a todo momento, a de nos convencer de que aqui é o "Estado das Maravilhas"e que a Educação vai muito bem. Agradeceu aos valorosos "educadores" que estão nas salas de aula, garantindo o futuro de nossas crianças e muitas baboseiras mais...
Acorde, senhor governador!
As "conquistas" a que fez referência foram, na verdade, confiscos, achatamento de salários, desvalorização do trabalho docente. Quiseram, o senhor e sua equipe maléfica, nos enrolar com o subsídio. Não deu, "não colou"..Não precisa tentar "dourar" essa pílula. Ela é amarga, não desce.
E faça-me a gentileza: não queira nos comover com essas ideias retrógradas de políticos que ainda não entenderam que estão no Poder para nos servir. Vangloriar-se de pagar os salários em dia, 13º, prêmio por produtividade é típico daqueles que fazem o mínimo e se acham o máximo.
Vamos, senhor Anastasia! Embora o senhor tenha dito, nas entrelinhas, que os bons professores são aqueles que  continuam nas salas de aula, subservientes e sem visão de futuro, sou capaz de relevar, pois é lá também que meus colegas e eu queremos estar. Basta nos pagar o PISO e nos respeitar. 

domingo, 28 de agosto de 2011

Aí vem bomba!!!


Pronunciamento do Governador Antonio Anastasia

BELO HORIZONTE (28/08/11) - O governador Antonio Anastasia faz, nesta segunda-feira, 29/08, às 10 horas, na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, pronunciamento sobre a paralisação parcial de professores da rede pública estadual.
Assunto: Pronunciamento do Governador Antonio Anastasia sobre paralisação parcial de professores da rede pública estadual
Data: 29/08/11
Horário: 10 Horas
Local: Palácio Tiradentes – 4º Andar - Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves

Se o Governador e suas fiéis escudeiras não tentarem nos dar um golpe...

(clique na imagem para ampliar)

A tabela acima foi retirada do site do senhor João Filocre ( http://www.joaofilocre.com.br/?page_id=406#comment-167) e contém os valores básicos do PISO, implantado de maneira proporcional à nossa jornada de 24 horas semanais. A eles, devemos acrescentar:
  • 20% de gratificação de incentivo à docência;
  • 10% para cada quinquênio;
  • 5% para cada biênio e outras vantagens a que o servidor fizer jus.
O problema é que o Governador vai tentar de tudo para nos dar o calote. Ele e suas subordinadas incompetentes já estão "mexendo os seus pauzinhos" com a ideia de pagamento escalonado por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal, etc. e tal. Tiveram três anos para se adequarem e não o fizeram. Agora querem dar o golpe. Por um bom tempo, contaram com a morosidade da Justiça e, aqui em Minas, também com a conivência daqueles que deveriam zelar pelo cumprimento da Lei. Agora não tem jeito: é PAGAR e pronto! Mas estejamos atentos, pois ainda poderão tentar algumas cartadas, como por exemplo:
  • Pagar somente aos 153000 servidores que voltaram ao regime remuneratório anterior ao "suicídio";
  • Diminuir os percentuais nas mudanças de nível e grau;
  • Acabar com a gratificação de incentivo à docência.
Continuemos mobilizados. A luta ainda não terminou!!!


sábado, 27 de agosto de 2011

Tributo a Geraldo Vandré

 Sou fã número 1 desse grande artista brasileiro. Admiro as letras de suas músicas, especialmente aquelas de cunho social. São fortes. Fazem refletir. Vandré é particularmente conhecido pela famosíssima música "Pra não dizer que não falei das flores", um hino de resistência ao regime militar, mas tem outras belas composições no seu currículo. Como forma de homenageá-lo, fiz uma coletânea de trechos de algumas de suas canções. Belos, belos!!!


"Quanto mais eu ando,/Mais vejo estrada/E se eu não caminho,/Não sou é nada.
Se tenho a poeira/Como companheira,/Faço da poeira/O meu camarada." (O Plantador)


"Quem sabe o canto da gente/Seguindo na frente/Prepare o dia da alegria." (João e Maria)


"Aprendi a dizer não/Ver a morte sem chorar/E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo/Estava fora do lugar/Eu vivo prá consertar..." (Disparada)



"Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim
Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim
Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção
Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão" (Porta Estandarte)

"Andei pelo mundo afora/querendo tanto encontrar/um lugar pra ser contente
onde eu pudesse mudar./Mas a vida não mudava/
mudando só de lugar." (Ventania) 

"Me pediram pra deixar de lado toda a tristeza, pra só trazer alegrias e não falar de pobreza. E mais, prometeram que se eu cantasse feliz, agradava com certeza. Eu que não posso enganar, misturo tudo o que vivo. Canto sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci. Faço versos com clareza, à rima, belo e tristeza. Não separo dor de amor. Deixo claro que a firmeza do meu canto vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza, foi que me fez cantador." (Terra Plana)

"Quem vai me escutar?/Quem vai me entender?/Ninguém pode mais sofrer
Quem vai me escutar?/Quem vai me entender?" (Ninguém pode mais sofrer)

"Vim de longe, vou mais longe/Quem tem fé vai me esperar/Escrevendo numa conta/Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo/Que esse mundo vai virar/Noite e dia vêm de longe/Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo/Sentado, mandando dar./E a gente fazendo conta/Pro dia que vai chegar" (Arueira)

"O terreiro lá de casa/Não se varre com vassoura,
Varre com ponta de sabre/E bala de metralhadora." (Cantiga Brava)

"Caminhando e cantando/E seguindo a canção/Somos todos iguais/Braços dados ou não/Nas escolas, nas ruas/Campos, construções/Caminhando e cantando/
E seguindo a canção" (Pra não dizer que   não falei das flores)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coisa mais linda!

"Tudo ficou tão contente
Porque minha gente
De novo era povo na rua."
                       Geraldo Vandré

Tenho dezenove anos de profissão e posso dizer que também tenho algumas greves no meu "currículo". Na primeira, em 1993, era professora recém-contratada, cheia de sonhos. Lembro-me de que, mesmo sendo designada, portanto mais vulnerável às injustiças do Governo, não hesitei em participar do Movimento que durou 76 dias. Outras greves vieram preencher o meu currículo. Outros momentos, mas a mesma luta por dignidade e valorização profissional. Mudaram-se os governos, mas não as consciências. Passamos, em 2010, pela "Maravilhosa revolta dos 47 dias" (palavras do professor Euler) acumulando perdas e confiscos. Descaso e desvalorização. Mas não considero aquele um momento perdido. Particularmente, aprendi muito. Ando agora entendendo até de Leis, às vezes tão complexas aos olhos de um leigo. E por saber mais (sei que tenho muito ainda a aprender), vou temendo cada vez menos as "autoridades", seus capachos. Seus discursos vazios. Entendo que eles estão no Poder para nos servir, para bem gerir o dinheiro público. Não temos que lamber-lhe os pés. Prestamos um importante serviço à sociedade e por ele queremos remuneração digna.
Nossa maravilhosa assembleia do dia 24 veio renovar nossas forças. Confesso ter ficado com lágrimas nos olhos e voz embargada diante da grandeza da verdadeira aula de cidadania que ali tivemos. Alunos, professores, líderes sindicais, todos unidos em apoio à nossa greve. Posso dizer que foi a maior manifestação popular da qual já participei. Sorrisos nos rostos cansados. Esperança de dias melhores, especialmente após a publicação do acórdão referente à ADI 4167, que pôs fim a qualquer argumento do Governo para não pagar o Piso. O povo nas ruas. O refrão que crescia: "Vem, vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer". Os papéis picados jogados dos prédios. A bandeira do Brasil agitada. A grande bandeira branca da paz. Coisa linda de se ver! Só estando lá para entender. 

Acabo de ler no jornal O tempo online. Olha o golpe aí, gente!!!

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=127885,NOT&IdCanal=

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Para refletir...



Não há verdadeira democracia quando o apego ao poder é maior do que o desejo de servir. (Graça Nogueira)

"Se eu não tentar não saberei como se voa
Não foi à toa que eu nasci para voar." (Padre Zezinho)


A "Poderosa" nunca está do lado dos oprimidos!!!


Mídia vendida! Dá até nojo a fala da Renata Vilhena, da SEPLAG!
Boicote à Globo, minha gente!!!
Emissora que se vende não é confiável.

Foi de emocionar!


Chegando agora, às 22h40min, de volta da maravilhosa ASSEMBLEIA DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS, em greve desde o dia 08 de junho! Foi emocionante, só estando lá para sentir e compreender o valor da luta. Chego cansada, mas antes de tomar meu banho e dormir o "sono dos justos", faço um "tour" pela Internet para avaliar as notícias sobre o nosso movimento. Esta que posto aqui é do jornal O TEMPO online. A vitória está próxima!!!


Seplag vai aguardar decisão final do STF para se pronunciar a respeito do piso para professores
24/08/2011 20h32
JOANA SUAREZ/PRISCILA COLEN
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O acórdão publicado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determina aos Estados o pagamento do piso nacional no valor de R$ 1.187 para jornada de trabalho de até 40 horas semanais, foi motivo de muita comemoração nesta quarta-feira (24), entre os professores da rede estadual que se reuniram no pátio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).


O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) anunciou que vai aguardar uma atitude do Ministério Público Estadual (MPE) para cobrar o cumprimento da lei. A secretária de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Renata Vilhena, afirmou que vai esperar a publicação final da decisão do STF para avaliar a posição de Minas, mas já adianta que o subsídio está dentro da lei porque cria um valor único ao incorporar os benefícios ao salário da categoria.

"A decisão ainda cabe recurso, por isso não queremos nos antecipar. Mas se o Supremo determinar o pagamento do piso, nós vamos aplicar aos profissionais que permaneceram no regime antigo", explicou Renata. Segundo ela, a determinação do STF não será válida para os servidores que já haviam migrado para o subsídio.

Determinação
Foi publicado no Diário da Justiça nesta quarta-feira (24) a resolução do cumprimento da Lei 11738 de 2008, que julga improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada por governos estaduais contra a obrigatoriedade do pagamento do piso aos professores. A decisão é do Supremo Tribunal Federal (STF) e pode mudar os rumos das negociações entre os professores estaduais e o Governo de Minas Gerais. De acordo com o STF, a decisão nega o subsídio, que engloba gratificações e benefícios na remuneração do servidor. Além disso, a determinação publicada obriga os governos estaduais a pagarem o piso aos trabalhadores. Vale lembrar que cabe recurso à decisão do órgão.


Greve 
Os professores, em uma greve histórica que já dura 77 dias, realizaram uma manifestação que começou no pátio da ALMG e seguiu até a Rodoviária, causando muito caos ao trânsito na capital. Os professores decidiram pela continuidade do movimento grevista, com nova assembleia marcada para 31 de agosto.

Esperanças renovadas!




O tão aguardado acórdão referente à ADI 4167 foi publicado!
O  que isso representa? Principalmente:

  • A confirmação, agora pública,  de que o PISO é vencimento básico, não remuneração total;
  • A garantia da constitucionalidade do tempo extraclasse (1/3).

Embora já soubéssemos disso, agora é certo: é PAGAR ou PAGAR o PISO! Sem enrolação, sem essa de melhorias no subsídio.
Faça-se a justiça, sem mais delongas, pois professores, alunos, todos já esperamos demais! E como somos pacientes!!!




Ele é o Zé. O Zé do povo. O Zé ninguém. O Zé que ninguém enxerga. Que não se enxerga. Zé das estatísticas, alfabetizado. Bem poderia ser João, Antônio, Pedro, Tião. Mas é Zé. Zé povinho. Desprezado. Manipulado. Zé que se deixa manipular. Zé-bolsa-família, Zé-cota, Zé-que-pensa-levar-vantagem. O Zé esquecido. O Zé que se esqueceu de si mesmo. Vulnerável. Trabalhador. Submisso. O Zé Maria, a Maria José. Faces de uma mesma moeda. O Zé pobre. O Zé que abdicou do direito de ser gente, que tem salário-mínimo e necessidades máximas. O Zé que se alegra quando adquire um bem para ser pago em vinte e quatro meses, comprometendo o orçamento doméstico. O Zé honesto, que se sente mal quando não consegue honrar seus compromissos. O Zé que não luta, aceita. Que chama o político de “Doutor” e se sente inferior a ele. O Zé que constrói um País e vê suas esperanças destruídas. O Zé-presa-fácil, voto certo, sem contestação. Sem sombra de dúvida. O Zé agricultor, o Zé operário, o Zé que vive de bico, o Zé escravo. O Zé eu, o Zé você. O Zé. Figura típica de um BRASIL de poucos e de um brasil de muitos.

                 (Do livro "Sob o olhar dos 40", da autora deste blog)



Rosas: alguns dos encantos da vida!



Vista parcial da Escola Estadual "Deputado Patrus de Sousa", em Carandaí.
(foto: arquivo pessoal - Graçanog)

Somente mais um arquivo?



Ando pensando quão insignificante tornou-se meu papel na sociedade, no mercado de trabalho. Amargo uma triste realidade: a de ser gente invisível, um gasto a mais para o poder público, que insiste em dizer que a Educação em nosso Estado vai muito bem, obrigada e que nós, professores, “choramos de barriga cheia”, pois temos um pomposo salário de R$1320,00 (sem os descontos, é claro)!
Há dezenove anos me dedico a essa carreira, e o que ganhei com a volta ao regime remuneratório antigo foi uma espetacular redução de salário!
Estou aguardando o PISO no vencimento básico, senhor governador! Estamos aguardando o cumprimento da LEI! Não faça de nós pessoas invisíveis, pois somos importantes, assim como todos os TRABALHADORES deste País. Não quero, não posso, não devo, após tantos sacrifícios e lutas, me sentir como o joão (assim mesmo, com minúscula!) do texto “O arquivo”, transcrito abaixo.

O arquivo
Victor Giudice

No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.
Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.





Quem finge ler, finge entender e aprender. Mas na vida não pode haver fingimentos.(Do livro de poemas "Enquanto não chega a primavera", da autora deste blog)

Professora, com muito orgulho!


Desde pequena me ensinaram a gostar de estudar. A amar os livros. A descobrir, em cada linha decodificada, o prazer de ser gente. Porque gente é assim... encantada com o saber. Desde criança, alertaram-me para a necessidade de me dedicar, para que pudesse alcançar meus sonhos. Voos altos. Mas, por querer mesmo, resolvi voar baixinho, admirar de perto as maravilhas deste mundo. Quis pouco, apenas ser feliz. Quis estar com pessoas, embora por muito tempo tivesse andado reclusa, misantropa... Sonhei quão realizada seria, dedicando-me a passar adiante o que aprendi.
Lembro-me com saudades de minha mãe, cujo orgulho parecia não caber no peito, ao ver a filha formada: PROFESSORA! Ela, que apesar da falta de oportunidades, no seu jeito simples de mestra do interior, sem formação acadêmica, ensinou-me o valor do respeito e da dignidade.  Durante muito tempo andei calada. Ouvi meus mestres e deles procurei assimilar o que tinham de melhor. Guardei na memória rostos, ensinamentos, lições de vida. Perdoei as falhas. Somos todos seres imperfeitos. Somos todos seres em evolução. Também eu preciso ser perdoada. A toda hora. A todo momento. 
Não, não errei na profissão... Sou professora, acho que não saberia fazer outra coisa. O que dói, dói muito mesmo, é sentir na pele a desvalorização e o descaso com que somos tratados. Andar cabisbaixo, sem perspectiva. Ainda assim, resistirei. Até quando? Não sei...