quinta-feira, 25 de agosto de 2011




Ele é o Zé. O Zé do povo. O Zé ninguém. O Zé que ninguém enxerga. Que não se enxerga. Zé das estatísticas, alfabetizado. Bem poderia ser João, Antônio, Pedro, Tião. Mas é Zé. Zé povinho. Desprezado. Manipulado. Zé que se deixa manipular. Zé-bolsa-família, Zé-cota, Zé-que-pensa-levar-vantagem. O Zé esquecido. O Zé que se esqueceu de si mesmo. Vulnerável. Trabalhador. Submisso. O Zé Maria, a Maria José. Faces de uma mesma moeda. O Zé pobre. O Zé que abdicou do direito de ser gente, que tem salário-mínimo e necessidades máximas. O Zé que se alegra quando adquire um bem para ser pago em vinte e quatro meses, comprometendo o orçamento doméstico. O Zé honesto, que se sente mal quando não consegue honrar seus compromissos. O Zé que não luta, aceita. Que chama o político de “Doutor” e se sente inferior a ele. O Zé que constrói um País e vê suas esperanças destruídas. O Zé-presa-fácil, voto certo, sem contestação. Sem sombra de dúvida. O Zé agricultor, o Zé operário, o Zé que vive de bico, o Zé escravo. O Zé eu, o Zé você. O Zé. Figura típica de um BRASIL de poucos e de um brasil de muitos.

                 (Do livro "Sob o olhar dos 40", da autora deste blog)



Um comentário:

  1. Será que um dia estes "Zé" diminuirá na população brasileira? Infelizmente só vejo que o número de Zé está só aumentando. Eu fico preocupado qual é a nossa parcela de culpa em contribuir na formação de mais Zé, pois temos que engolir a seco este sistema educacional do Estado de Minas, formando cada vez mais Zé, Zé Mané. Zé que não questiona, não compreende a sua própria realidade e nem está se esforçando para isso.

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