sábado, 1 de outubro de 2011

Entrevista comigo, por mim mesma!

Olá, boa-noite!
Boa-noite, querida!

Depois do fim de uma greve tão longa e desgastante como essa, da qual você participou, há o que comemorar?
Primeiro, quero esclarecer que minha escola aderiu à greve a partir do dia 15 de agosto, ou seja, dois meses depois do seu início. Louvo aqueles que estiveram desde o começo. Para eles, foi bem mais desgastante. Nós fomos a "Tropa de reforço". Quanto à pergunta, tenho a dizer que sempre vejo motivos para comemorar. A vida, em si, deve ser celebrada com alegria. Sou otimista (ou utópica?) por natureza. Vejo avanços e conquistas onde muitos só enxergam derrotas. Quer um exemplo? Mesmo naquela tabela ridícula que o governo apresentou, com o VB de R$712,20 para praticamente todos os níveis, muitos professores (especialmente dos níveis I e II) estariam melhorando seus salários. É claro que almejamos o cumprimento da Lei 11.738/2008 na sua integralidade mas, desde o início, sabíamos que lutar contra os poderosos é muito difícil. As conquistas vêm "pingadas", choradas. Lei, só para os pobres.

O que você espera das negociações entre Governo, Sindicato e Deputados? 
Espero que tragam conquistas, que sejam feitas de boa-fé (palavra muito usada por nosso "querido" Governador), por parte do Governo, sem subterfúgios para cumprir o que manda a Lei. Agora, sinceramente, acho que o máximo que pode acontecer é a aplicação da tabela proporcional do MEC, com escalonamento. Sei que não é isso que reza a Lei, mas em se tratando de Minas e Anastasia, tudo pode. Acabei de ler no Blog do Euler as sábias colocações desse conceituado companheiro, na qual ele apresenta "um programa mínimo de reivindicações"( ver Blog do Euler). Concordo plenamente com ele, mas se dissesse que acredito ver esse "programa mínimo" acatado totalmente pelo governo, estaria mentindo. A luta é renhida, as conquistas, minguadas. Mas nem por isso, menos importantes.

Você não acha que os mais prejudicados com a greve são os alunos?
Quando alguém me diz que os alunos são os mais prejudicados nesse contexto de greve, minha resposta é "curta e grossa": "Meu filho, já estamos prejudicados desde o momento em que nascemos pobres!" E tento fazê-los enxergar que todos os trabalhadores brasileiros deveriam lutar por uma vida mais digna, não só os professores. Dinheiro tem, porém mal distribuído, mal gerenciado. O prejuízo é de toda uma sociedade subjugada, que vive das bolsas-esmolas do governo, porque isso rende voto. Nós, professores, já estamos prejudicados há muito tempo. Cada vez mais cobranças, cada vez menos salário e dignidade. Lutamos por nós e pelo futuro da educação pública.

Se não está satisfeita, por que não muda de profissão?
Porque gosto do que faço. Acho que não saberia fazer outra coisa. Usando uma linguagem metafórica: Não é pulando do barco que você vai salvar a embarcação, muitos menos os passageiros. Você poderá se salvar, mas viverá a enorme angústia de não ter lutado para transformar o status quo. 

A participação nessa greve trouxe mudanças em você?
Cada dia é um aprendizado. Sempre fui uma pessoa extremamente tímida, mas estou aprendendo a não me calar. Posso dizer que a greve é um momento único de busca de conhecimento, de renovação das esperanças. Aqueles que participaram diretamente da luta, viram a grandeza dela. Mais do que um movimento grevista, foi um grito de socorro das classes menos favorecidas, representadas por nós e pelos companheiros de diversos outros movimentos sociais, clamando todos por justiça. A greve me fez ser destemida.

Você considera a greve um movimento político-partidário?
De forma alguma! É óbvio que há sempre os que querem tirar proveito, que querem se autopromover, mas o movimento tem a sua identidade. Nós não somos massa de manobra! Cada um saberá analisar e separar o oportunismo do verdadeiro desejo de colaborar para um final feliz, não só na história do PISO, mas em outros tantos embates que virão.

O que você tem a dizer aos professores substitutos?
Sinto muito porque não pudemos contar com vocês nessa luta, que é de toda uma categoria. Infelizmente, fizeram o jogo do governo para desmobilizar e dividir, colaborando para enfraquecer uma greve que estava forte e com um objetivo amparado por LEI FEDERAL: implantação do PISO SALARIAL PROFISSIONAL DO MAGISTÉRIO, na CARREIRA. Foi triste saber que alguns andaram dizendo aos alunos que, se nós nos preocupássemos com eles, não faríamos greve. Que visão simplista da situação! Além de professora, tenho filho e sobrinhos estudando na rede estadual. E é justamente por me preocupar com eles e com meus alunos, que participo da greve. Se ficasse na sala de aula, só reclamando como muitos fazem, não conseguiria encarar meus alunos: teria vergonha por não ter lutado!

Para encerrar, que mensagem quer deixar aos companheiros de luta?
Especialmente aos colegas guerreiros da Escola Estadual  "Deputado Patrus de Sousa" (onde leciono), ao grupo "Éramos seis" da E.E. "Gentil Pereira Lima" e aos destemidos da E.E "Francisco do Carmo", quero dizer que formamos um belo grupo! E não importa se às vezes as opiniões divergiam, se os caminhos não eram os mesmos. O que importa é que soubemos (e continuaremos sabendo) nos respeitar. Vi em cada olhar a preocupação com o outro, o desejo sincero de transformar. Têm todos a minha admiração!!!


Galeria de fotos


Rute, Euler e Cida
Eu, Cida e Beatriz

Cida, Rute, Robson, Cidinha e eu

Eu, Cida, Beatriz e Rute



Na Casa, dita do Povo, fecharam as portas da "Sala do chá"
para nós
(assembleia do dia 27/09/2011)


Acampamento na ALMG

Acampamento na ALMG

As contradições da vida...

Mais acampados



O crucificado

Belo cartaz!
O Pinóquio das Alterosas

Acampamento na ALMG

3 comentários:

  1. João Paulo Ferreira de Assis5 de outubro de 2011 às 16:56

    Prezada amiga e companheira de luta Professora Graça Nogueira

    Com a sua devida vênia transcrevo comentário feito nos blogs do Euler e da Cristina:

    Prezado amigo e companheiro de luta Professor Euler

    Prezados companheiros de luta

    Tive uma ideia e a executei agora mesmo. Como eu participo de várias campanhas da Avaaz.org, sugeri que a campanha pelo pagamento do Piso fosse feita por ela. O contato é este:

    http://www.avaaz.org/po/contact

    E aqui está a mensagem para eles:

    Peço que o Avaaz.org faça uma campanha para o cumprimento da Lei 11738, de 2008 por Estados e Municípios brasileiros, já que há muitos governadores de Estado e prefeitos de município que se recusam a cumprir a lei. Esta lei é a última esperança de valorização dos professores brasileiros, por isso recorremos a vocês, para que a incluam na sua campanha.

    Muito obrigado, João Paulo Ferreira de Assis.

    Saudações, e até a vitória!!!!
    João Paulo Ferreira de Assis.

    POST SCRIPTUM:

    Quanto mais professores pedirem, melhor.
    5 de outubro de 2011 16:49

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  2. Adorei sua entrevista! Muito original e objetiva! É cada vez maior minha admiração por você! Parabéns Graça!

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  3. ADOREI A ENTREVISTA! mINHA ADMIRAÇÃO POR VOCÊ CRESCE A CADA DIA! pARABÉNS!

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