sábado, 24 de setembro de 2011

Divagações de uma professora grevista

Bem, pessoal, demorei um pouco para atualizar o blog porque estava fazendo  uma faxina em casa, senão estaria grudada na Internet. Meu filho já anda cobrando de mim o tempo que passo em frente ao computador, fazendo pesquisas, buscando informações ou postando no blog. Mas ele acaba entendendo. Agradeço a ele e ao meu marido a compreensão. Sei que ando meio negligente como mãe, esposa e dona-de-casa, mas não consigo, por um momento sequer, esquecer de que estamos em greve. E fico como barata tonta, tentando conciliar um monte de afazeres domésticos com a minha condição de professora em greve: Internet, reuniões, telefonemas para os companheiros, tudo mesclado com uma indignação que vai me corroendo, fazendo-me cada vez mais forte, cada vez mais "inconsequente". Mas não desanimo: faço a faxina cantando, dançando com a vassoura, entre dores nas costas e na alma...
Há alguns dias, uma amiga me falou sobre a intransigência do Governador e relembrou outras greves das quais participamos. Greves mais curtas, outras longas... Mas em nenhuma delas fomos tratados com tanto desprezo pelos Poderes constituídos nestas nossas Minas Gerais. Dispensa de vice-diretores por participarem do movimento? Não me recordo de ter acontecido. Substituições? Ameaçavam, mas nunca cumpriam. Calendário de reposição? Só depois do fim da greve. São tantas arbitrariedades... Chegam a causar repugnância.
O pior de tudo, é que agora estamos querendo, apenas, o cumprimento de uma Lei Federal, que aqui em Minas o Poder Executivo moldou ao seu gosto, jogando no lixo, além da Lei 11.738/2008, nosso Plano de Carreira, a LDB e outras legislações mais. 
Quem lê o site da Secretaria de Educação, pensa que vivemos em mundos paralelos, dadas as maravilhas que ali são divulgadas. Confesso: tenho ódio. Sou chamada de otária a todo momento. Não me calo mais. Não aceito viver como no tempo em que os Poderes não podiam ser questionados, em que os Reis eram vistos como representantes de Deus aqui na Terra e que, ao povo, caberia a subserviência, tendo como garantia de recompensa a vida eterna. Há tanta gente incompetente e oportunista ocupando cargos públicos, pensando primeiro no seu quinhão, sem o mínimo desejo de servir... Há tantos salários estratosféricos para tanta enrolação... E há tantas pessoas submissas e omissas colaborando para que esses se perpetuem no poder... 
Nossa luta é bem mais ampla, não é apenas por aumento salarial. É um pedido de socorro, é a vontade de mostrar ao mundo as mazelas da Educação Pública - a qual defendo com unhas e dentes - , é denunciar as vergonhosas manipulações de dados e pessoas, criando uma visão errônea de que tudo anda bem. E sabemos, não está. Quantos de nós, se quisermos fazer uma avaliação decente para os nossos alunos, não temos que tirar dinheiro do próprio bolso? Quantos ainda temos que dar nossas aulas na velha prática do "cuspe e giz", únicos instrumentos de trabalho que temos? E as turmas, às vezes com quarenta alunos ou mais,  a toda hora desafiando a nossa paciência? E ainda as cobranças, cada vez maiores, por bons resultados: PROALFA, PROEB, PAAE, IDEB, ENEM e o diabo que os carregue? Num Estado onde impera a falsa meritocracia, inventaram até um "Prêmio por produtividade" que nada acrescenta ao nosso salário e é mais uma forma de mostrar "serviço" lá fora, de acirrar uma disputa para ver quem mente mais...
Professor valorizado é o primeiro passo para termos uma Escola Pública de qualidade. Sem isso, tudo mais será em vão. Substituam-nos, descartem-nos. Como Fênix, ressurgiremos das cinzas. E nos tornaremos uma pedra no sapato de quem ainda não entendeu o nosso recado: Antes do PISO, até o PISO, depois do PISO, a vida toda... Somos e (seremos sempre) seres pensantes e agentes das mudanças. 


Revoltante: Pesquisei em vários jornais on-line, só encontrei em "O tempo": http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=130515,NOT&IdCanal=


Professores em vigília na ALMG ficaram sem água e acesso aos banheiros da Casa
Dois professores que há seis dias só bebem água tinham reserva em garrafas, mas foram privados do acesso ao banheiro
24/09/2011 17h26




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ANA CLARA OTONI
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Os professores que fazem vigília na porta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, devido à greve que completa hoje 109 dias ficaram sem água e acesso aos banheiros externos da ALMG neste sábado (24). Os dois professores fazem greve de fome há seis dias estavam no local e também tiveram transtornos por causa da privação. “A sorte é que tínhamos nossas garrafinhas de água na reserva”, afirmou o técnico em educação Abdon Geraldo Guimarães, de Varginha, no Sul de Minas - que há quase uma semana só bebe água.

O educador contou que só foram avisados formalmente da falta d’água pelos funcionários da ALMG, quando já haviam notado a ausência da distribuição. “Ficamos a manhã inteira sem poder usar os banheiros. É um absurdo não terem avisado a gente que ia faltar água aqui”, indignou-se Abdon. A distribuição só foi normalizada às 15h, segundo o grevista. Guimarães contou que algumas pessoas chegaram a usar os banheiros por não saberem do problema na distribuição. "É complicado, né? A gente não tinha como fazer as nossas necessidades fisiológicas", disse.

Segundo o deputado estadual Rogério Correia (PT) foi feita uma limpeza na caixa d’água da ALMG e, que por isso, a distribuição de água ficou comprometida. “Espero que tenha sido coincidência (a falta d’água durante o período de vigília dos professores), não quero fazer juízo de valor”, afirmou o deputado. Segundo o parlamentar, um médico tem avaliado diariamente os professores que fazem greve de fome.
Pelo twitter, vários usuários comentaram o fato. O usuário @ezequialdias comentou "Água na ALMGfoi cortada ... coitado dos nossos colegas que estão em vigília... Ajude-os!". A internauta @marizapaiva também denunciou a falta de água na Casa Legislativa de Minas. @marizapaiva "Governo corta água na ALMG onde os professores fazem vigília. Greve/108 dias".  O deputado Rogério Correia (PT), também se manifestou na rede social: @rogeriocorreia_ Vou acionar apoio. RT@mcriscostabh "Água na ALMG foi cortada...coitado (sic) dos nossos colegas que estão em vigília...Ajude-os!".

A reportagem tentou fazer contato com a assessoria da ALMG, mas não obteve retorno.
 

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